Linhas
Peguei o ônibus com
destino ao bairro onde sempre morei. Era um bairro pacato. Ali mantinha minhas
amizades desde a infância. O ônibus parou no sinal. Olhei pela janela. Parou ao
lado de outro ônibus e lá estava ela, lendo um livro com fones nos ouvidos.
Bela como era quando nos conhecemos... Ela era nova no bairro, vinda de uma
cidade pequena. A pele morena queimada de sol. Na escola, a melhor em nota.
Vivia na biblioteca. Sempre modesta ao falar de si. Modéstia verdadeira que
chamou meu olhar ao encontro do seu. Como brilhavam! Um brilho empolgante,
motivador. Estava tão apaixonado. Queria ser seu namorado. Pedi sua mão sem
saber que ia dar errado. No começo tudo bem. Era meiga, carinhosa e passávamos
muito tempo juntos. Mas depois de um tempo, conforme fomos nos conhecendo vi
que não era para mim. Suas ideias de querer mudar o mundo, sua ânsia por
estudos e seu projeto de carreira. Eu que antes queria estar com ela pela vida
inteira, percebi que não acompanharia seu ritmo. Queria apenas uma casa, uma
família, um bom emprego. Ela já dizia não querer ser mãe tão cedo. Seguiria por
um caminho no qual eu não me via e ainda hoje não me vejo. Ela também não se
via no meu. Mesmo que me amasse, precisava partir. E eu por amá-la de verdade,
deixei-a ir. Sofri com minha ignorância e meu egoísmo. Entendi que se
ficássemos juntos seria mais inferno que paraíso... Ali naquele momento,
vendo-a através dos vidros, sem saber para onde ela estava indo com o
metropolitano, vi a mesma garota cheia de sonhos que não me notara ainda. Até
que o sinal se abriu. Meu ônibus virou a rua e o dela seguiu pela avenida
deixando-me como despedida um olhar trivial.
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